“Não somos um País à parte, somos parte da solução do Brasil”. (Rafael Greca, Secretário de Desenvolvimento Sustentável do governo paranaense
Tentar tapar o sol com peneira não muda cenários quando se trata do tema da conservação da natureza. À exceção de remanescentes da Serra do Mar e do Parque Nacional do Iguaçu, o Estado do Paraná apresenta apenas fragmentos de áreas naturais que seguem sofrendo processos continuados de degradação.
Não dá para esconder. A Mata Atlântica está desaparecendo diante dos nossos olhos e os governos – os que saíram e os que entraram – seguem tratando esse tema como algo secundário. Restam pouco mais de 12% da floresta original, mesmo sendo um dos ecossistemas mais ricos do mundo em biodiversidade.
O Brasil está perdendo espécies únicas de animais silvestres, acompanha o aumento de enchentes, rios secos, clima mais instável e qualidade de vida comprometida. A Mata Atlântica ajuda a regular o clima, a água que bebemos e o ar que respiramos.
Ao sediar, a partir desta terça-feira (19), a Conferência da Mata Atlântica, o governo paranaense coloca a mão na consciência e chama parceiros de outros estados das regiões Centro, Leste e Sul, para assumirem compromissos que nortearão o futuro da sociedade.
É um sinal de alerta com a possibilidade de virar esta terrível página e adotar medidas concretas para a preservação dos nossos biomas.

O ex-prefeito de Curitiba e hoje secretário de Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca, tomou a frente desse encontro e observa que “há uma longa estrada a ser percorrida até a descarbonização do nosso planeta. Ela passa pela ampla Educação Ambiental, pelo amor à Natureza e chega a um Banco Verde para preservar a nossa Mata Atlântica. Aqui, o sol brilha nas ramas altas da grande Araucária – símbolo maior da nossa Natureza”.

Embora em tom poético – seu estilo de tratar a natureza e as cidades, Rafael Greca disse, na abertura da Conferência: “Gostaríamos de compartilhar duas iniciativas transformadoras que estamos impulsionando e que representam nosso avanço em sustentabilidade na prática:
1. “O Banco Verde”: Uma plataforma inovadora que conectará produtores de créditos de biodiversidade e carbono – sejam pessoas ou empresas – com empresas paranaenses que buscam compensar suas pegadas e gerar impacto positivo. Estamos trabalhando, em parceria com a Secretaria da Fazenda, para que em breve, empresas com benefícios fiscais possam destinar um pequeno percentual de seus recursos a esses projetos. O Paraná será pioneiro ao garantir que 30% de todo o valor transacionado seja direcionado aos produtores que preservam, no mínimo, 20% de suas terras, provando que sustentabilidade e desenvolvimento podem andar de mãos dadas.
2. “O Fundo UNIDO!” – para Biofertilizantes de Lixo Urbano: Em uma parceria estratégica com a UNIDO, o braço da ONU para o desenvolvimento industrial, estamos criando um fundo para financiar a construção de fábricas de biofertilizantes a partir de lixo urbano, com taxas de juros inferiores a 6% ao ano. É com grande orgulho que o Paraná foi escolhido pela ONU para sediar esta iniciativa pioneira, consolidando nossa posição como um polo de inovação em economia circular e gestão de resíduos.
Greca aposta que, “essas ações concretas reforçam o compromisso do Paraná em ser um estado que não apenas discute a sustentabilidade, mas a implementa com soluções que geram valor para todos”.

Carta de Curitiba
Os Governadores dos Estados do Sul e do Sudeste, reunidos no 13° encontro do Consórcio de Integração Sul-Sudeste (COSUD), em Curitiba, no Estado do Paraná, durante a Conferência da Mata Atlântica, divulgam uma carta com o seguinte teor:
O futuro do Brasil passa pela Mata Atlântica. O principal bioma do Sul e Sudeste, que está presente em 17 estados e abriga mais de 70% da população e 80% do PIB do País, é uma grande reserva com milhões de espécies de fauna e flora que merece atenção nas discussões climáticas globais. Esse é o berço da civilização brasileira, terra de povos originários, e é desse bioma a árvore que dá origem ao nome do País. A Mata Atlântica precisa ser valorizada e preservada.
Os Estados do Sul e do Sudeste, que, juntos, mostram que é possível aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, firmaram um Tratado da Mata Atlântica para compartilhar experiências e boas práticas em matéria de meio ambiente e uso harmônico e racional dos recursos naturais.
Os principais temas em desenvolvimento desde então são restauração e conservação do ecossistema, fiscalização rigorosa, bieconomia, incentivo ao uso de fontes renováveis de energia e mapeamento do uso e cobertura da terra, principalmente em função das áreas de risco.
Os Estados têm trabalhado de maneira integrada e com a perspectiva de fortalecimento de políticas verdes. Há diferentes exemplos em andamento, que vão do plantio de mais de 35 milhões de mudas nativas e ampliação do monitoramento por satélite às compensações financeiras por áreas preservadas, além do estímulo à educação ambiental e criação de novas Unidades de Conservação.
Os Estados estão comprometidos a apoiar seus municípios na elaboração de planos específicos para adaptação às mudanças climáticas e redução de riscos associados, olhando também para a construção de melhores Planos Diretores e inclusão de prioridades ambientais nos orçamentos públicos. Esse suporte está sendo crucial para assegurar a aplicação dos objetivos comuns sobre a Mata Atlântica.
Um dos avanços concretos é que as Defesas Civis estão totalmente integradas e compartilham dados e expertises para mitigação de riscos e atuação em eventos extremos. Essa união já foi aplicada em situações de crise nos últimos anos, como no atendimento às enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul.
Outro projeto que avança é a contratação de uma empresa especializada para a elaboração de diagnósticos territoriais, estruturas de proteção e Defesa Civil instaladas e cenários de riscos existentes e potenciais para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. A contratação integrada deve ser o primeiro grande símbolo de investimento do COSUD, o que demonstra que essa é uma pauta prioritária.
Em outra frente, em Florianópolis, no 12° encontro, houve a assinatura de um termo de cooperação entre os estados e os respectivos Ministérios Públicos com a meta de fortalecer a atuação preventiva para mitigar riscos e danos causados por eventos climáticos extremos, promovendo a troca de informações e desenvolvimento de práticas de maneira mais rápida. O Comitê Gestor que vai orientar a operacionalização dessa parceria está quase todo nomeado. O COSUD ganhou apoio institucional para continuar a buscar soluções para os desafios.
O desmatamento do bioma, que ainda é preocupante, vem caindo nos últimos anos, de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, da iniciativa MapBiomas Alerta. A visão desse conselho e a consolidação das metas estabelecidas no Tratado da Mata Atlântica trarão resultados importantes para a política ambiental, mas é possível fazer mais diante das mudanças climáticas e os Estados do Sul e do Sudeste se comprometem a trabalhar para ampliar a fiscalização para proteger a vida da floresta.
A COP 30, que acontecerá em Belém, no Pará, atrairá as atenções globais para a Amazônia e a região Norte do Brasil, dentro da ideia de fazer desse evento uma bandeira diplomática. A Mata Atlântica e outros biomas brasileiros, que são irmãos da Floresta Amazônica, muitas vezes fogem das atenções dos negociadores internacionais da justiça climática, mas também inspiram bons exemplos.
Há consenso de que as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima têm papel importante para a humanidade, mas elas não podem deixar de lado atores regionais e municipais, que são estratégicos para implementação, na prática, dos termos estabelecidos nas redações finais das cúpulas. Prefeituras e governos estaduais, geralmente os que mais têm metas e planos a incorporar, são consultados menos do que deveriam.
O Brasil pode ficar mais verde se os entes da Federação tiverem mais força nas mesas de discussão, e se trabalharmos de forma unida em cima do que é prático. Dogmas não favorecem a discussão. O fanatismo deve ficar em segundo plano.
Não há discussão climática sem biodiversidade. Os Estados que compõem o corredor verde da Mata Atlântica, que também se estende ao Nordeste e Centro-Oeste, estão olhando para aspectos mais amplos do espectro ambiental, como a busca pela universalização do saneamento básico, o cuidado com as nascentes, a promoção de uma agricultura sustentável, a transformação energética do campo e das cidades a partir de fontes renováveis, a saúde única, a defesa da fauna e flora ameaçadas e a cultura da preservação.
Para dar ainda mais corpo ao Tratado da Mata Atlântica, os Estados do Sul e do Sudeste vão trabalhar para consolidar a criação de um Fundo da Mata Atlântica para a conservação ambiental, com apoio também dos outros estados que conservam o bioma, criar corredores ecológicos terrestres e marinhos e manter o incentivo à descarbonização.
O COSUD tem compromisso com o diálogo democrático, a sustentabilidade e o Brasil.
Consórcio Sul-Sudeste
Os Estados do Sul e do Sudeste também formalizaram no 13° encontro o sistema de rateio para o funcionamento permanente do Consórcio de Integração Sul-Sudeste (COSUD) com aporte inicial de R$ 10,5 milhões. O escritório de representação ficará em Brasília. O COSUD já tem CNPJ, Conselho de Administração e foi formalizado em lei em todos os membros.
Registrando agradecimento a todos que contribuíram para a realização do 13° encontro do COSUD, os governadores abaixo listados firmam a continuidade da integração regional e também desejam que a Conferência da Mata Atlântica, iniciativa inédita que vai reunir a comunidade científica, atores do Poder Público e a sociedade civil, com apoio do Consórcio Brasil Verde, ajude a apontar caminhos que potencializem os esforços da sociedade na pauta ambiental.
Sugestões para a Carta de Curitiba
Embora a “Carta de Curitiba” da Conferência da Mata Atlântica” tenha sido assinada, consultamos vários atores ligados ao meio ambiente que nos deram sugestões:
O Governo do Paraná e a Prefeitura Municipal de Curitiba proporcionam condições únicas para pontuar avanços, sumamente necessários, para fazer frente ao novo normal imposto pelas mudanças climáticas e a perda da biodiversidade em âmbito local, regional e global.
A próxima COP-30 cria expectativas para que compromissos efetivos, capazes de representar mudanças de cenário, sejam implantadas de forma ampla. Esta premissa se difere de um contexto apenas demonstrativo e de alcance limitado, que corresponde ao que ocorreu ao longo dos últimos anos, desde a Rio 92.
Para alguns dos técnicos ouvidos pela reportagem, existem várias frentes mais específicas no caso do tema das mudanças climáticas. São asa diferentes metodologias inerentes a diminuição das emissões de gases de efeito estufa que demandam políticas apropriadas para serem assimiladas em larga escala.
Uma economia de baixo carbono já apresenta suporte técnico em busca de mudanças na matriz energética, aliada a um amplo número de tecnologias em prática, que devem ser ressaltadas com metas ambiciosas para os próximos anos.
Outros grupos especializados neste contexto devem ser capazes de aportar elementos consistentes para esta finalidade, considerando que a agenda das Mudanças Climáticas avançou de forma muito efetiva na apresentação de soluções que demandam, substancialmente de uma adequação de políticas para que sejam implementadas a contento.
Conservação da Biodiversidade:
Porém, pouco ênfase se deu às muitas sinergias entre as alterações do clima e a perda da biodiversidade. Esta falsa percepção de dicotomia e o fato de que a agenda da conservação implica em mudanças ainda mais desafiadores, no sentido de incluir este componente na esfera das prioridades das gestões públicas e dos negócios, torna premente um avanço acelerado parte o atendimento de um déficit expressivo em ações mais efetivas praticamente em todo o território brasileiro (e de outros países).
Um pressuposto fundamental a ser estabelecido é a função das áreas naturais como produtoras de serviços ecossistêmicos e que geram ganhos sociais e econômicos mensuráveis e monetizáveis, permitindo que áreas conservadas, públicas e privadas, sejam reconhecidas como “parte dos negócios”.
Embora a agenda que envolve a conservação da biodiversidade seja bastante ampla, cabem alguns elementos básicos a serem considerados num contexto
como sugestões para serem assumidas por governos e outros atores, para a região da Mata Atlântica:
1. Pleitear com o Governo Federal o ingresso de recursos internacionais com foco nos demais Biomas brasileiros, adicionalmente ao que ocorre atualmente na Região Amazônica, avaliando-se com critérios técnicos os principais pontos críticos, gerando um contexto de investimentos com base em prioridades;
2. Desenvolver e implantar programas metropolitanos nas capitais brasileiras para garantir a proteção e a restauração de remanescentes naturais nos municípios de entorno, gerando resiliência às mudanças climáticas e atratividade para novos negócios com recursos gerados a partir de fontes mistas (governamentais e privadas) capazes de dar sustentação a demanda de cada região;
3. Identificar e implantar programas de grandes corredores de conservação de áreas prioritárias, com base no conceito de produção de natureza, garantindo provisão de serviços ecossistêmicos para áreas rurais e urbanas e o desenvolvimento de novos negócios, como o turismo de natureza;
4. Criar autarquias especializadas em Clima e Biodiversidade nas unidades da federação e nas grandes capitais, dando espaço adequado a esses temas para garantir avanços criticamente necessários para prover respostas com a consistência e amplitude demandadas;
5. Estabelecer um programa de aproximação de diferentes grupos setoriais ao mercado de créditos de biodiversidade, com articulação com instituições bancárias e instâncias governamentais de meio ambiente, gerando investimentos complementares ao do poder público com foco na proteção do patrimônio natural;
6. Promover programas estaduais de monitoramento de biodiversidade, com foco em espécies ameaçadas e gerando ações de manejo conforme as prioridades de cada região, incluindo a criação de novas Unidades de Conservação, reforço na gestão de Unidades de Conservação já existentes, ações de combate a espécies exóticas invasoras, reintrodução e repopulação de espécies raras ou ameaçadas, combate a caça e extrativismo ilegal;
7. Garantir reforço as estruturas estaduais da Polícia Ambiental, ampliando contingentes e possibilitando incremento substancial na capacidade de fiscalização e monitoramento de ilícitos envolvendo a proteção do patrimônio natural;
8. Reforço técnico, tecnológico e de contingente dos órgãos ambientais federais, estaduais e municipais para garantir celeridade em processos de licenciamento ambiental, para que possam dar respostas a sociedade com isenção e transparência. (Curitiba, PR – 19 de agosto de 2025)
Clóvis de Souza, executivo da SPVS, afirma que é preciso apoiar o reflorestamento, cobrar dos governos fiscalização e políticas públicas sérias, consumir de forma consciente e valorizar quem protege o meio ambiente. A natureza não é um recurso infinito — e o tempo para salvá-la está acabando. Ressalta, no entanto, que apenas plantar mudinhas criadas em estufas, não vai solucionar o problema, que está no solo do bioma degradado.

Onde começa a Mata Atlântica no Paraná
Onde começa e termina a Mata Atlântica no Paraná? Segundo informações históricas do governo paranaense, A Mata Atlântica no Paraná cobre principalmente a faixa leste do estado, seguindo o relevo da Serra do Mar e descendo até o litoral. Ela começa nas regiões de serra, próximas da divisa com São Paulo, especialmente a partir da Serra do Mar, no nordeste do estado.
Áreas de floresta densa aparecem em cidades como:
Antonina
Morretes
Guaraqueçaba
Paranaguá
Piraquara
Quatro Barras
Curitiba (ainda com fragmentos urbanos)

Onde termina?
A Mata Atlântica se estende para o sul e sudoeste do estado, reduzindo-se em fragmentos menores à medida que se afasta da Serra do Mar e do litoral.
Vai até áreas próximas das divisas com:
Santa Catarina (sul do estado)
Paraguai e Mato Grosso do Sul (oeste), onde dá lugar ao Cerrado e Mata de Araucária.
Áreas protegidas importantes no Paraná:
Parque Nacional do Superagüi
Estação Ecológica de Guaraqueçaba
Parque Estadual Pico do Marumbi
APA de Guaratuba
Serra da Graciosa (conservação natural e turística)