HomeColunasNovo livro sobre príncipe Andrew reacende escândalos da monarquia britânica

Novo livro sobre príncipe Andrew reacende escândalos da monarquia britânica

Londres, 20 de agosto de 2025 – A publicação do livro Entitled – The Rise and Fall of the House of York(“Intitulado – A ascensão e queda da Casa de York”), do biógrafo e historiador Andrew Lownie, tem provocado novo abalo nas estruturas da monarquia britânica e reacendido escândalos que, para muitos, já estavam adormecidos.

Lançada em 14 de agosto, a obra mergulha nos bastidores da vida do príncipe Andrew — terceiro filho da rainha Elizabeth II — e da ex-esposa Sarah Ferguson, revelando episódios até então pouco divulgados. A repercussão não se restringiu à imprensa britânica: veículos da Austrália, Estados Unidos e de antigos territórios da Commonwealth também ecoaram o escândalo.

“Entitulado” por sangue e comportamento

Baseada em mais de quatro anos de pesquisa, pedidos formais de documentos e entrevistas com ex-funcionários da realeza, a obra retrata Andrew como um homem arrogante, sexualmente compulsivo e emocionalmente instável. Segundo Lownie, o príncipe teria perdido a virgindade aos 13 anos e mantido relações mais próximas e antigas com o pedófilo Jeffrey Epstein do que o Palácio admitira até então.

Sarah Ferguson, por sua vez, é retratada como financeiramente irresponsável e midiaticamente impulsiva. O livro afirma que, após o divórcio, a duquesa teria tentado se aproximar de celebridades como John F. Kennedy Jr. e o golfista Tiger Woods — fatos confirmados por fontes próximas, mas tratados com ironia pela imprensa britânica.

Um ex-funcionário do Palácio, demitido em 2010, relatou que “todas as noites ela exige uma peça inteira de carne bovina, uma perna de cordeiro e um frango, dispostos na mesa de jantar como num banquete medieval”. Em  outra ocasião, após uma viagem aos Estados Unidos, Sarah teria retornado com 51 volumes de bagagem extra. A imprensa americana, implacável, passou a chamá-la de “Sua Alteza Real do Excesso”.

A recepção na imprensa e o incômodo nos bastidores

The Times descreveu o livro como um “retrato implacável” e destacou que “a rainha sabia” dos comportamentos do filho. Já o The Guardian e a Euronews ressaltaram que a ligação com Epstein é o ponto mais explosivo da obra. Na GBNews, o comentarista Jacob Rees-Mogg classificou a biografia como “fofoca sórdida”. Lownie, por sua vez, rebateu dizendo ter entrevistado mais de 300 pessoas e acrescentou que “a família real tem interesse em desqualificar o conteúdo porque ele é verdadeiro”.

Segundo a pesquisa mais recente da YouGov sobre a popularidade da monarquia, a maioria dos britânicos considera o duque de York o membro mais impopular da família real. Há uma pressão crescente para que ele perca todos os títulos remanescentes.

Crítica com ironia: quando o absurdo supera a ficção

Nem toda a imprensa britânica recebeu o livro com reverência. O The Telegraph publicou uma crítica ácida e irônica à obra, questionando seu real valor enquanto biografia. O colunista Christopher Howse afirmou que, embora Entitled se apresente como uma investigação factual, falha em alcançar algo mais profundo: a compreensão psicológica do duque de York. Para o jornal, o autor Andrew Lownie privilegia exageros e escândalos, mas não se aproxima da complexidade do personagem.

Um dos exemplos citados na crítica é o depoimento de um ex-funcionário do Palácio de Buckingham, que teria declarado que, se a verdade completa sobre Andrew e Epstein viesse à tona, “o público britânico tentaria impichar a Família Real”. O colunista ironizou: “Não sei nem o que isso significa… Provavelmente se pareceria com o julgamento do Valete de Copas em Alice no País das Maravilhas.”

Na avaliação do Telegraph, a própria entrevista de Andrew à BBC, em 2019 — na qual afirmou não suar, como parte de sua defesa contra acusações de abuso — já havia sido suficiente para selar sua má reputação. O lançamento, nesse contexto, apenas reforça o retrato de um homem que, com ou sem investigação, já estava publicamente comprometido.

Como epílogo curioso, o jornal recorda que, mesmo após o divórcio, Andrew continua morando na mesma — e ampla — residência que a duquesa. Mais de 60 anos de idade, 29 anos de separação formal e ainda sob o mesmo teto: “Você não consegue inventar uma história assim”, conclui a resenha.

Reações e silêncio

Enquanto o Palácio de Buckingham mantém a estratégia do silêncio, amigos das princesas Beatrice e Eugenie, filhas do casal, disseram à revista Marie Claire que as duas estão “devastadas” e se sentem “vítimas inocentes”.

Já Sarah Ferguson, que recentemente venceu um câncer de mama, tem evitado aparições públicas. Segundo a imprensa local, ela pretende responder às acusações apenas por meio de seu próximo livro — uma autobiografia prevista para 2026.

Um capítulo a mais na crise da realeza

Não é a primeira vez que escândalos envolvendo a monarquia britânica ganham projeção internacional. Da abdicação do rei Edward VIII, em 1936, ao conturbado divórcio de Charles e Diana, nos anos 1990, a relação da Casa Real com a imprensa sempre oscilou entre a veneração e a vigilância.

Mais recentemente, os desentendimentos públicos entre Harry, Meghan e o restante da família Windsor evidenciaram como a mídia e a opinião pública podem influenciar diretamente os rumos da monarquia.

Com Entitled, Lownie lança nova luz sobre episódios que o Palácio preferia manter nas sombras. Em um Reino Unido que busca redefinir seu papel global no pós-Brexit e sob o reinado de Charles III, essas revelações ganham peso — não apenas para o presente, mas também para o futuro da instituição.

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