A maior rede brasileira de apoio às pessoas com deficiência intelectual e deficiência múltiplas, as Associações de Pais e Professores (APAEs), foi surpreendida com decisão presidencial de inclusão de crianças com necessidades especiais nas escolas públicas. Com isso, essas entidades, que existem há mais de 70 anos, seriam praticamente extintas.
Houve manifestações em todo o País, principalmente no Congresso Nacional, onde parlamentares consideram a medida absurda e formaram uma corrente para derrubar a nova Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, que, segundo eles, ameaça o funcionamento das APAEs e outras instituições especializadas que atendem estudantes
Este é um tema sensível e, portanto, muito delicado, que desperta debates importantes. Não se pode negar que o ideal é garantir acesso à educação para todos, mas a realidade das nossas escolas muitas vezes evidencia desafios significativos.
Neste grande espaço territorial brasileiro, muitas unidades escolares enfrentam falta de recursos básicos, salas superlotadas e carência de profissionais capacitados. Diante deste quadro, pergunta-se: como garantir que crianças com necessidades especiais recebam a atenção adequada sem que a qualidade do ensino seja comprometida para todos?
A intenção do governo federal acabou se transformando em um debate nacional, pois a inclusão, quando realizada sem infraestrutura e preparo adequados, pode gerar situações de vulnerabilidade para os alunos, como dificuldades de aprendizado e até episódios de bullying. É preciso, para isso, políticas públicas mais robustas, com capacitação de professores, material didático adaptado e recursos de apoio.
Nosso jornal ouviu parlamentares, dirigentes de APAEs, psicólogos e empresários altruístas que participam dessa rede de ajuda a essas pessoas. Eles explicam que essas entidades oferecem acompanhamento especializado que muitas vezes a escola regular não consegue suprir. A questão central é como integrar esforços: fortalecer escolas públicas e oferecer suporte especializado, garantindo educação inclusiva de qualidade.
A ideia de uma escola inclusiva, onde todas as crianças aprendem juntas, é linda na teoria. Mas na prática, nossas escolas públicas enfrentam desafios enormes. Muitas vezes o sistema não está preparado para atender nem mesmo os alunos convencionais, e a inclusão sem estrutura adequada pode gerar frustração e vulnerabilidade.
As APAEs, no entanto, oferecem acompanhamento individualizado, materiais adaptados e profissionais preparados para lidar com diferentes deficiências. Fechar essas instituições sem garantir alternativas seguras e eficazes seria um risco para quem mais precisa de cuidado e atenção.
A verdadeira inclusão não se resume a colocar todos em uma mesma sala. Ela exige preparo, investimento e respeito às diferenças. O desafio que enfrentamos não é excluir, mas encontrar caminhos que garantam educação de qualidade, segura e digna para todas as crianças, com ou sem necessidades especiais.
Hoje temos no Brasil 2.265 APAEs. Elas são responsáveis por aproximadamente 26 milhões de atendimentos anuais. São mais de 1,772 milhão de pessoas assistidas.



