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Insegurança alimentar atinge 735 milhões de pessoas no planeta

No Brasil, maior produtor de alimentos da América Latina, mais de 20 milhões de pessoas vivem em situação de fome. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 735 milhões de pessoas ainda passam fome.

Em Curitiba, um evento, embora discreto, nos chamou a atenção: O 11º Colóquio DIAITA Luso-Brasileiro de História e Culturas da Alimentação, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR. Pesquisadores, historiadores e cientistas do Brasil e Portugal despertaram o debate entre os dias 28 e 31.  

Por que fomentaram a discussão? Por se tratar de um tema assustador que é a insegurança alimentar do ponto de vista, também, sobre saberes, identidades e consumos alimentares sob diversas perspectivas históricas, culturais e sociais. Uma discussão mais profunda, na raiz cultural do problema.

O tema insegurança alimentar é recorrente e será, com certeza, um dos temas a serem discutidos no COP-30, em Belém. A insegurança alimentar é um problema que atravessa fronteiras e denuncia as contradições do nosso tempo. A fome continua a atingir milhões de pessoas, mesmo com recordes de produção de alimentos e avanços tecnológicos sem precedentes.

No Brasil, por exemplo, a situação é especialmente alarmante. Um dos maiores produtores agrícolas do planeta, o país ainda convive com mais de 20 milhões de cidadãos em situação de fome. O problema, portanto, não está na produção, mas na desigualdade. A concentração de renda, o desperdício e a falta de políticas públicas estruturadas tornam o alimento um privilégio, quando deveria ser um direito.

No encontro de Curitiba, a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos da PUCPR e organizadora do evento Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Barreto Amorin Pilla disse: “estamos às vésperas da COP30, o tema da alimentação é fundamental para uma reflexão sobre como nos alimentamos e a maneira como podemos produzir alimentos saudáveis para a população sem esquecer o compromisso nutricional, ambiental, e sobretudo, atender os afetos e memórias que a comida nos evoca.”

Nesse contexto, a COP 30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil e o mundo discutirem soluções integradas entre sustentabilidade, segurança alimentar e justiça social. O encontro reunirá líderes globais para definir compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa e fortalecer políticas de transição ecológica.

Fome zero

Esta é a expectativa dos cientistas, professores, pesquisadores e historiadores dos dois países que estiveram na PUC em Curitiba. O evento acontece a cada ano, reunindo nos anos pares estudiosos/as e interessados/as no tema, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde está sediada a rede transnacional DIAITA, e nos anos ímpares, tem acontecido em Universidades brasileiras.

Esta foi a terceira vez que a Escola de Humanidade da PUCPR recebeu esse evento, demonstrando o compromisso com os temas emergentes que interligam sobretudo assuntos dos Direitos Humanos e Políticas Públicas, bem como o nosso apreço à Agenda 2030, principalmente as ODS 2 Fome zero e agricultura sustentável, ODS 5 Igualdade de Gênero e ODS 11 Cidades e Comunidades Sustentáveis.

A programação do 11º Colóquio DIAITA Luso-Brasileiro de História e Culturas da Alimentação contou com palestras, plenárias, comunicações orais; workshops e apresentação cultural.

O evento teve início com a apresentação do grupo Conversa de Matuto, formado por Pedro Henrique Ribeiro (violão), Rebeca Fridman (voz e percussão) e Celso Joabe (trompete), que brindou o público com um repertório de músicas brasileiras ligadas à temática da alimentação e da cultura popular.

Em seguida, foi realizada a palestra de abertura com a Prof.ª Dr.ª Ana Carolina Viotti (UNESP – Marília), intitulada “Tapioca: histórias e percursos de um ingrediente de raiz brasileira”, que explorou as dimensões históricas, simbólicas e identitárias da tapioca na formação cultural do Brasil.

Programação científica

Nos dias seguintes, a programação científica prosseguiu com a plenária “Um roteiro nostálgico para uma mesa partilhada: a Galiza em Lisboa”, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Inês Ornellas e Castro (Universidade Nova de Lisboa). Também se realizou a mesa-redonda “Práticas, saberes, memórias e patrimônios alimentares em populações vulnerabilizadas: imbricando corpo-território-ambiente em contextos de modernidade-colonial”, mediada pela Prof.ª Dr.ª Patrícia Merlo e participação da Prof.ª Dr.ª Lígia Amparo-Santos, que abordaram as inter-relações entre alimentação, território e justiça social.

As comunicações orais ocorreram em diferentes eixos temáticos, refletindo a diversidade de abordagens sobre as culturas alimentares:

•        Temporalidades e espacialidades do comer, coordenado pelas Prof.as Dr.as Maria Cecília Barreto Amorim Pilla (PUCPR), Alexandra F. M. Ribeiro (PUCPR) e Valquíria Elita Renk (PUCPR)

•        Tradições e Inovações do Comer, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Cilene da Silva Gomes Ribeiro (PUCPR), Prof. Dr. Valdecir Ferri (UFPEL) e Prof. Dr. Ricardo Cini (PUCPR);

•        Sistemas alimentares sustentáveis, sob coordenação do Prof. Dr. Everton Luiz Simon (UNISC), Prof. Dr. Flávio Bezerra Barros (UFPA) e Prof.ª Dr.ª Flávia Auler (PUCPR);

•        Saberes e práticas alimentares: memórias e experiências cotidianas, coordenado pelas Prof.as Dr.as Mônica Abdala (UFU), Fabiana Bom Kraemer (UERJ) e Prof.ª Ms. Eloize Augusta da Cruz (PUCPR).

A programação contou ainda com a plenária “Cadernos de receitas, patrimônio de Minas Gerais”, apresentada pela Dr.ª Sônia Magalhães; e com a plenária “Há uma incidência tremenda da fome…”, proferida pela Prof.ª Dr.ª Patrícia Maria da Silva Merlo (UFES), que trouxe reflexões sobre as desigualdades alimentares e suas raízes históricas. A palestra “Mulheres do Mar: Um trabalho invisível nas comunidades piscatórias Portuguesas (séculos XIX–XX)” proferida pela Prof.ª Dr.ª Josefina Salvado

Entre as atividades práticas, destacou-se a mesa-redonda “Diálogos histórico-socioculturais para abastecimento sustentável nas cidades”, mediada por Prof.ª Dr.ª Fabiana Bom Kraemer (UERJ), com participação das Prof.as Dr.as Jucimeri Silveira e Maria Cecília Barreto Amorim Pilla, além do Ms. Leverci Silveira Filho. Houve também a oficina “Mesa para todos”, conduzida pelo Prof. Dr. Ricardo Cini, com aula show sobre o aproveitamento integral de alimentos, e o workshop “Cupcake e a influência da cultura norte-americana”, ministrado pela Prof.ª Dr.ª Alexandra Ferreira Martins Ribeiro, que relacionou práticas culinárias e transformações culturais contemporâneas.

O encerramento do evento ocorreu no dia 31 de outubro, na Câmara Municipal de Curitiba, a convite da vereadora anfitriã Laís Leão.  A sessão final foi marcada pela Conferência de Encerramento “Patrimônio Alimentar Familiar: Projetos Colaborativos com Cidadãos”, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Carmen Soares, seguida da mesa de encerramento, que contou com as presenças da Prof.ª Dr.ª Carmen Soares, da Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Barreto Amorim Pilla, do cônsul de Portugal em Curitiba e da vereadora convidante Laís Leão. O Colóquio DIAITA reafirmou seu compromisso com a valorização do patrimônio alimentar como expressão de memória, identidade e resistência cultural, promovendo o diálogo entre saberes tradicionais e práticas contemporâneas.

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