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Líderes brasileiros e britânicos discutem em São Paulo cenários políticos e econômicos de 2026

Por Lorena Nogaroli

São Paulo recebeu na última quarta-feira (3) a nova edição do Plano de Voo 2026, encontro anual promovido pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). O evento reuniu empresários, executivos e representantes de organizações brasileiras e britânicas no Centro Brasileiro Britânico, em Pinheiros, para analisar as perspectivas econômicas do Brasil e os fatores externos que devem influenciar o país em 2026.

Patrocinada pela Shell, BP e AstraZeneca, a rodada do Great British Business Club (GBBC) trouxe uma agenda ampla: eleições nos Estados Unidos, tensões geopolíticas na Venezuela, avanço tecnológico da China, polarização política no Brasil, reforma tributária, tributação de dividendos e desafios fiscais que podem moldar o ambiente de negócios no próximo ano.

O painel principal contou com a participação de nomes de destaque na comunicação e no mundo jurídico: Givanildo Menezes, diretor de Jornalismo da CNN Brasil; Luís Filipe Pereira, coordenador de conteúdo da Esfera Brasil; Marcelo Favalli, apresentador do Times Brasil / CNBC; e Clara Gomes Moreira, advogada tributarista do escritório Machado Meyer Advogados. A mediação foi conduzida pelo presidente do Comitê de Economia & Finanças da Britcham Brasil, Alan Lutfi, e pela vice-presidente, Jéssica de Alencar Araripe,

O equilíbrio entre especialistas em mídia, mercado e tributação contribuiu para um debate multifacetado sobre política, economia e negócios.

EUA: incerteza eleitoral e impacto global

Os debatedores destacaram que o cenário americano permanece um dos principais vetores de instabilidade internacional. As eleições de 2026 renovarão parte expressiva do Legislativo, e a disputa pode reduzir a força política do atual governo.

A situação fiscal norte-americana foi apontada como um risco estrutural: a dívida ultrapassa 130% do PIB, com juros anuais próximos a US$ 1 trilhão. Especialistas afirmaram que eventuais cortes de gastos podem repercutir em mercados emergentes, como o Brasil.

Brasil: reforma tributária, polarização e pressão fiscal

Um dos temas mais sensíveis discutidos foi o avanço — ou a falta dele — da reforma tributária. Os debatedores chamaram atenção para o prazo exíguo para aprovação das normas finais e para a possibilidade de tensões políticas na criação do Comitê Gestor do novo imposto sobre valor agregado (IBS).

Eles também destacaram que 2026 será marcado pela intensificação da polarização política, pela força crescente do Congresso e pela pressão fiscal sobre o governo, que ainda precisa fechar um rombo estimado em R$ 30 bilhões.

China: hegemonia tecnológica e influência global

A China foi tratada como elemento-chave para entender a configuração econômica de 2026. Os participantes destacaram o avanço chinês em inteligência artificial e tecnologia de ponta, além da capacidade de moldar cadeias produtivas globais. Para o Brasil, isso significa oportunidades comerciais, mas também maior dependência de um único mercado consumidor.

Venezuela: tensão geopolítica e risco não precificado

Outro ponto levantado foi a escalada militar dos Estados Unidos no Caribe. As movimentações navais e aéreas, sob justificativa de combate ao narcotráfico, reacendem o risco de instabilidade na Venezuela — país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo.

Os debatedores alertaram que o mercado brasileiro ainda não precificou eventuais impactos de uma crise regional, que poderia afetar migração, comércio e câmbio.

Tributação de dividendos e desafios para empresas

Um dos assuntos mais técnicos abordados foi a tributação de dividendos. A partir de 2026, dividendos superiores a R$ 50 mil/mês terão retenção de 10% de imposto para pessoas físicas e não residentes. As mudanças seguem tendência internacional, mas geram dúvidas operacionais, antecipações atípicas de distribuição e insegurança jurídica para empresas.

Sustentabilidade e papel internacional do Brasil

Por fim, o Brasil foi apontado como protagonista crescente em fóruns multilaterais — como G20, BRICS e COP — mas ainda com dificuldade de transformar presença internacional em avanços concretos para a economia interna.

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