HomeColunasEstudo britânico revela que estado emocional da mãe repercute diretamente nos filhos

Estudo britânico revela que estado emocional da mãe repercute diretamente nos filhos

Por Lorena Nogaroli

Londres, 20 de outubro de 2025 – Um estudo britânico com abrangência inédita aponta que o sofrimento emocional das mães — manifestado por sintomas de ansiedade, sobrecarga ou tristeza persistente — tem impacto mais direto e intenso sobre a saúde mental dos filhos do que o sofrimento equivalente dos pais.

Ao acompanhar mais de 3 mil famílias entre 2009 e 2022, a pesquisa da Universidade de Manchester identificou que os sintomas maternos operam como uma espécie de “efeito em cascata” emocional sobre as crianças, enquanto os sintomas paternos têm conexão menos direta no modelo estatístico.

A equipe de pesquisa chegou a afirmar que esse é o primeiro estudo que compara simultaneamente os papéis emocionalmente interligados de mãe, pai e filho, revelando a centralidade da mãe na unidade emocional familiar.

Entre os achados centrais, o estado de sobrecarga da mãe mostrou forte associação com aumento de inquietação nas crianças, e esse estado da criança, por sua vez, retroalimentava a mãe — criando um ciclo de reforço mtuo.

“A criança tem uma ligação biológica e afetiva tão intensa com a mãe — especialmente nos primeiros anos — que passa a perceber o mundo pelos olhos dela. Se a mãe está em constante alerta, tristeza ou exaustão, o filho entende que o mundo também é um lugar inseguro”, explica a psiquiatra Luana Carvalho, especializada em saúde mental materna.

Segundo a médica, mães emocionalmente sobrecarregadas, exaustas ou adoecidas acabam transmitindo, ainda que sem intenção, sinais de insegurança emocional para os filhos. “Se a mãe está em alerta constante, o filho entende que o mundo é inseguro”, afirma.

Por outro lado, os sintomas emocionais dos pais não mostraram influência direta e constante sobre a saúde emocional das crianças ao longo do tempo — embora pudessem afetá-las de forma indireta, por meio do impacto que causam nas mães.

A pesquisa reforça uma hipótese que a clínica já intuía: a mãe ocupa um papel central na arquitetura emocional da criança — e seu sofrimento interno não apenas a aflige, mas reverbera nos filhos. No Brasil, onde mais de um quarto das mulheres enfrenta sintomas depressivos após o parto, essa interdependência torna-se ainda mais crítica.

Impactos no desenvolvimento e aprendizado das crianças

Para a pedagoga e psicopedagoga Vanessa Cavalcante Queiroz, orientadora educacional na Academia Donaduzzi, em Toledo (PR), a saúde mental infantil está diretamente ligada à capacidade de aprender. “Quando uma criança está bem emocionalmente, sente-se segura, motivada e capaz de enfrentar desafios. Mas, se enfrenta dificuldades emocionais, o aprendizado tende a ser comprometido”, explica.

Segundo ela, questões como ansiedade, medo, estresse ou insegurança afetam concentração, memória e interesse pelos estudos. “Não se trata de falta de esforço. Muitas vezes, comportamentos de isolamento ou queda no rendimento escolar são um pedido de ajuda”, alerta.

Ambientes acolhedores, com escuta ativa e apoio emocional, favorecem o desenvolvimento da confiança e da autonomia. Vanessa reforça que o trabalho conjunto entre escola e família é essencial. “Quando o sofrimento emocional da criança é reconhecido e acompanhado por especialistas, é possível oferecer suporte adequado e promover o equilíbrio necessário para aprender com prazer”.

O que pode ser feito?

De acordo com a psiquiatra, quando a mãe recebe acolhimento, tratamento e rede de apoio, o impacto negativo pode ser reduzido. “Cuidar das mães não é apenas um benefício individual — é uma estratégia de prevenção emocional para toda uma geração.”

Luana Carvalho orienta três frentes de cuidado fundamentais:

  • Reconhecimento: “admitir que está difícil não é fraqueza, é maturidade emocional.”
  • Apoio médico e psicológico: transtornos como depressão e ansiedade materna são tratáveis. Intervenções psicológicas, terapias específicas e, se necessário, medicações, podem interromper o ciclo de repasse emocional para a criança.
  • Divisão real de responsabilidades: não basta discurso: é preciso divisão real de tarefas familiares, suporte comunitário, creches, grupos de apoio, políticas sociais que amparem a mulher no pós-parto.

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