Por mais que a política seja um palco legítimo para a disputa de ideias e projetos, há momentos em que o espetáculo ultrapassa o razoável e beira o cômico — ou o trágico. É o caso do que vem ocorrendo com a figura do governador Ratinho Junior, que, apesar de não ser um pirata, vem acumulando no ombro uma revoada de “papagaios” políticos.
O fenômeno, que virou motivo de piada entre observadores e até entre aliados, tem se intensificado nos últimos eventos públicos. Políticos dos mais diversos calibres têm se acotovelado — às vezes literalmente — para garantir um lugar nas fotos ao lado do governador. O cenário é quase surreal: gente simulando presença à distância apenas para aparecer no enquadramento. Em tom de brincadeira, disseram que “o homem vai acabar ficando rengo” de tanto peso simbólico nas costas.
O problema, no entanto, não está na busca pela visibilidade — algo natural em tempos pré-eleitorais —, mas na superficialidade dessa exposição. A política se transforma em palco de vaidades enquanto questões sérias, como a ética na administração pública, seguem sendo tratadas com pouco mais que descaso.
Um bom exemplo disso é o recente desgaste enfrentado pelo senador Sergio Moro. Matérias publicadas no fim de semana por grandes veículos da imprensa, como a revista Piauí, colocam sob suspeita o papel do ex-ministro da Justiça na construção de uma “engenharia” institucional que, anos depois, facilitou esquemas de corrupção no INSS. A Polícia Federal investiga, e o país acompanha.
Fala-se, inclusive, que esta pode ser a “gênese” de um novo escândalo — ironicamente, com a assinatura de alguém que fez da moralidade sua bandeira. Enquanto isso, o União Brasil, partido ao qual Moro está filiado, enfrenta uma crise interna ruidosa. O nome de Felipe Francischini divide apoios, e Ricardo Barros (Progressistas), experiente articulador político, mantém silêncio estratégico sobre apoiar o governo estadual. Barros defende candidatura própria e já lançou o nome de sua esposa, Cida Borghetti. A disputa interna expõe uma federação desarticulada e sem direção clara no Paraná.
Outro ponto curioso do cenário político atual é o esquecimento de nomes de peso nas pesquisas eleitorais. Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba e atual secretário de Sustentabilidade do governo estadual, viralizou nas redes com um texto reflexivo — e, mesmo assim, foi ignorado na pesquisa estimulada da Quaest. Alexandre Curi, presidente da Assembleia Legislativa, também ficou de fora. “Estou trabalhando, correndo o meu Estado”, disse, com visível descontentamento.
Em paralelo, questões sociais de alto impacto continuam sendo palco de disputas ideológicas. O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) liderou, ao lado dos 25 Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) de Curitiba, uma nota de repúdio contra o que classificou como “apologia ao uso de drogas” durante audiência pública na Câmara Municipal, realizada no dia 5 de agosto. “Em vez de discutir soluções reais, apresentaram um viés favorável à liberação das drogas, com direito até a um ‘manual’ de uso. Isso é inaceitável”, afirmou.
Romanelli concluiu com uma frase que ecoa além da polêmica: “As drogas destroem famílias, tiram vidas e aumentam a violência. Não podemo s romantizar nem normalizar algo que tanto sofrimento causa à sociedade.”
Entre papagaios de pirata, candidatos esquecidos e escândalos em construção, o eleitor paranaense se vê diante de um cenário onde a vaidade ainda fala mais alto que o compromisso com o bem público. Que venha 2026 — e, com ele, a oportunidade de separar os figurantes dos protagonistas.