HomeDESTAQUEAgressão tarifária de Trump pode levar Brasil a uma potência autônoma

Agressão tarifária de Trump pode levar Brasil a uma potência autônoma

O tarifaço que o presidente americano Donald Trump quer impor ao Brasil mira aspirações de autonomia do Brasil, observa o cientista político Christian Lynch em entrevista ao DW Brasil. “A Trump só interessa governos submissos e o tarifaço é o começo de um processo sistemático de agressão”, disse. A tarifa de 50% nos produtos exportados pelo Brasil aos EUA deve começar em primeiro de agosto.

Trump condicionou o arrefecimento das tarifas de 50% às exportações brasileiras para os EUA ao imediato encerramento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e também ao fim da regulação das big techs.

Para o cientista, “essa ameaça tarifária não será um episódio isolado. Aí está o erro de quem acha que se trata apenas de uma questão comercial, que pode ser resolvida por uma negociação técnica. Não é disso que se trata”.

Para Lynch “é o começo de um processo sistemático de agressão, que só termina quando Trump alcançar seu objetivo: instalar no Brasil um governo que sirva aos seus interesses — seja por meio de eleição, seja por golpe. Para isso, ele precisa ajudar a extrema direita brasileira a desmontar nossa democracia, neutralizar o STF e remover Lula do poder”.

Na sua avaliação, para o trumpismo, toda a América deve girar em torno dos interesses estratégicos dos EUA. É o que explica também seus ataques e pretensões expansionistas sobre a Groenlândia, sobre o Canadá, o reenquadramento do Panamá. O Brasil, com sua aspiração de autonomia, virou a grande pedra no sapato do trumpismo na América do Sul. Para Trump, só interessam chefes de Estado avassalados — como Milei, na Argentina.

A resistência racional e organizada ao imperialismo trumpista abre para o Brasil uma oportunidade rara de avançar em seu antigo projeto geopolítico: o de se afirmar como uma potência autônoma e respeitada na América do Sul. E vale lembrar: esse projeto não é invenção da esquerda. Ele remonta ao século 19, e teve como formulador o Visconde de Uruguai, um conservador, disse.

“A agressão de Trump ao Brasil pode significar a maior virada de chave da política nacional desde 2013. Naquela época houve a ascensão da ultradireita, a direita tradicional se legitimou ideologicamente e a esquerda perdeu o discurso. Agora, estamos vendo o inverso: a esquerda reencontrando suas bandeiras históricas — a defesa da soberania nacional contra o imperialismo, e a proteção dos trabalhadores. São temas que haviam sido deixados de lado em nome de uma agenda mais cosmopolita, mais identitária, muito influenciada pela globalização”.

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