O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na liderança em todos os quatro cenários testados para a disputa presidencial de 2026 e também venceria qualquer um dos adversários em um eventual segundo turno. É o que revela pesquisa nacional realizada pelo Instituto Opinião entre os dias 15 e 17 de dezembro de 2025, com duas mil entrevistas em todo o país.
No primeiro cenário estimulado, Lula soma 40,3% das intenções de voto, mais que o dobro do segundo colocado, Flávio Bolsonaro (PL), que aparece com 20,4%. Ratinho Junior (PSD) tem 9,3%, seguido por Ronaldo Caiado (União), com 6,1%, e Romeu Zema (Novo), com 3,6%. Brancos e nulos somam 14%, enquanto 6,5% dos entrevistados se dizem indecisos.
No segundo cenário, Lula mantém a dianteira, com 39,8%, enquanto Michelle Bolsonaro (PL) aparece com 24,4%. Ratinho Junior marca 9%, Caiado 6,3% e Zema 4,3%. Já no terceiro cenário, o presidente registra 40,1%, contra 21,6% de Flávio Bolsonaro, 7,1% de Caiado, 5,2% de Zema e 4,2% de Eduardo Leite (PSD). No quarto e último cenário testado, Lula amplia a vantagem e chega a 42,4%, enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos) aparece com 19,2%.
Além da vantagem numérica, os cruzamentos de voto indicam que a liderança de Lula se sustenta em dois fatores centrais: a alta fidelidade do seu eleitorado e a dificuldade de recomposição do campo oposicionista. No cenário que testa Lula contra Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e o contingente de indecisos, o presidente consegue atrair votos inclusive fora do seu núcleo tradicional, enquanto a oposição ainda perde parcela relevante de eleitores para a indecisão ou para o voto branco e nulo.
Entre eleitores que hoje declaram voto em Flávio Bolsonaro, quase metade (48,4%) migra para Tarcísio de Freitas, consolidando o governador de São Paulo como principal polo de agregação da direita nesse cenário. Ainda assim, Lula aparece com 5,6% nesse grupo e disputa espaço também entre eleitores indecisos ou inclinados ao voto branco e nulo. Nesse segmento, embora Tarcísio lidere, Lula apresenta desempenho semelhante ao de outros nomes da oposição, indicando que esse eleitorado ainda não está completamente fechado.
A fragmentação do campo oposicionista também se evidencia entre eleitores de Ratinho Junior e Michelle Bolsonaro. Entre os que hoje votariam em Ratinho, Lula registra cerca de 14% das intenções, enquanto uma fatia expressiva permanece indecisa. Já entre eleitores de Michelle Bolsonaro, quase 30% tendem ao voto branco ou nulo, o que reduz o potencial de crescimento imediato de uma candidatura unificada da direita e favorece a manutenção da dianteira do presidente.
O comportamento do eleitorado em relação à eleição anterior reforça esse desenho. Entre os eleitores que votaram em Lula em 2022, 77,4% mantêm fidelidade ao presidente, enquanto apenas 0,5% migram para Flávio Bolsonaro. Já entre os eleitores de Jair Bolsonaro, embora Flávio concentre 47,2% das preferências, há uma dispersão significativa entre outros nomes da direita e, sobretudo, para o voto branco, nulo ou indeciso, evidenciando a dificuldade de transferência automática desse capital eleitoral.
Para o sociólogo Arilton Cândido Freres, diretor do Instituto Opinião, os dados mostram um cenário de estabilidade para Lula. “O presidente mantém uma base muito fiel e competitiva. Do outro lado, a oposição ainda aparece fragmentada, sem um nome capaz de organizar o eleitorado antipetista em torno de um projeto único já no primeiro turno”, avalia.
Segundo turno
A vantagem de Lula se mantém quando o levantamento simula confrontos diretos no segundo turno. Contra Tarcísio de Freitas, o presidente venceria por 43,9% a 37,9%. Diante de Flávio Bolsonaro, Lula aparece com 42%, contra 37,6%. No embate com Michelle Bolsonaro, o petista teria 44,2%, frente a 38,5%. Contra Eduardo Leite, Lula venceria por 43% a 32,8%, e diante de Ratinho Junior, o placar seria de 45,6% a 34,7%.
Segundo Freres, os números do segundo turno reforçam a força eleitoral do presidente. “Mesmo com índices de desaprovação elevados, Lula vence porque parte do eleitorado crítico ao governo não se identifica automaticamente com os nomes da oposição”, afirma.
Avaliação do governo e do presidente
Apesar da liderança eleitoral, a avaliação do governo Lula segue dividida. Segundo a pesquisa, 13,1% consideram o governo ótimo e 16,9% o avaliam como bom. Para 25,9%, a gestão é regular. Já 12,4% classificam o governo como ruim e 28% como péssimo.
A avaliação pessoal do presidente é ainda mais desafiadora: 41,8% aprovam a forma como Lula governa, enquanto 56,1% desaprovam.
Para Arilton Freres, os dados revelam uma dissociação entre avaliação administrativa e intenção de voto. “O eleitor brasileiro muitas vezes separa o julgamento do governo do cálculo eleitoral. Mesmo quem avalia o governo de forma crítica pode enxergar Lula como a opção mais segura ou conhecida diante dos adversários”, analisa.
Voto para deputado não segue alinhamento presidencial
A pesquisa também mostra que a maioria dos eleitores não leva em conta o alinhamento partidário com o presidente na hora de escolher um deputado federal. Apenas 41,3% dizem considerar se o candidato é do mesmo partido ou aliado do presidente, enquanto 52,8% afirmam que não levam isso em conta.
Na avaliação de Freres, esse comportamento ajuda a explicar as dificuldades enfrentadas pelo governo no Congresso. “O eleitor escolhe o deputado muito mais pela pessoa, pela relação local ou pela promessa individual do que por um projeto nacional. Isso gera um Congresso fragmentado, pouco comprometido com a base presidencial, o que dificulta a aprovação de projetos estratégicos”, destaca.
Atuação internacional e embate com os Estados Unidos
Quando o tema é política externa, a percepção dos brasileiros é dividida. Para 34,3%, o Brasil está mais respeitado no mundo sob o governo Lula, enquanto 35,4% acreditam que o país está menos respeitado. Outros 24,4% dizem que não está nem mais nem menos respeitado.
Já a atuação de Lula na recente crise com os Estados Unidos, envolvendo o embate sobre tarifas e a pressão internacional relacionada à condenação de Jair Bolsonaro, é avaliada de forma majoritariamente positiva. Para 35,9%, o desempenho do presidente foi ótimo ou bom, contra 33,2% que consideram ruim ou péssimo.
“Mesmo com a polarização, há um reconhecimento de que Lula tem experiência e trânsito internacional, o que pesa positivamente quando o país se envolve em conflitos diplomáticos mais complexos”, avalia Freres.
Desempenho das instituições nacionais
A avaliação do funcionamento das principais instituições nacionais revela um quadro de desconfiança e percepção limitada de avanço. Para 40% dos entrevistados, a Câmara dos Deputados não tem trabalhado para ajudar o Brasil a avançar, enquanto apenas 23,8% avaliam positivamente a atuação dos deputados. Outros 29% consideram que a Câmara ajuda “em parte” ou “mais ou menos”. No Senado Federal, o cenário é semelhante: 38% dizem que a Casa não contribui para o avanço do país, contra 24,3% que avaliam seu desempenho de forma positiva, enquanto 30,6% apontam uma atuação intermediária. Já o governo federal aparece mais dividido: 32,7% acreditam que o Executivo tem ajudado o Brasil a avançar, percentual próximo aos 34,7% que discordam dessa avaliação, enquanto 25,1% enxergam uma atuação apenas parcial.
Indicação de Jorge Messias ao STF
A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal ainda é pouco conhecida pela população. Segundo a pesquisa, 47,1% não ficaram sabendo da indicação, enquanto 32,8% dizem que acompanharam o assunto.
Sobre o perfil do indicado, 13,1% se dizem favoráveis, 29,8% contrários e 43,4% indiferentes. Para 14%, Lula acertou na indicação, enquanto 30,8% avaliam que ele errou.
Para Arilton Freres, a reação morna era esperada. “O STF ainda é um tema distante para a maior parte da população. A indicação não mobiliza paixões como outras pautas e tende a ser vista com indiferença, salvo em momentos de crise institucional mais aguda”, explica.
Fim da obrigatoriedade das autoescolas encontra resistência
Outro ponto abordado pela pesquisa foi a proposta de acabar com a obrigatoriedade de frequentar autoescolas para tirar a Carteira Nacional de Habilitação. A maioria dos brasileiros se posiciona contra a medida: 47,2% rejeitam a mudança, enquanto 41,5% são favoráveis.
Além disso, 45,6% acreditam que o fim da obrigatoriedade pioraria a segurança no trânsito, contra apenas 17,1% que acham que melhoraria.
“O brasileiro associa a autoescola à segurança, mesmo reconhecendo problemas no modelo atual. Há um receio claro de que flexibilizar demais as regras aumente acidentes e imprudência no trânsito”, conclui Arilton Freres.
Segurança digital
O levantamento também expõe a dimensão dos golpes digitais no cotidiano dos brasileiros. Mais da metade da população afirma conhecer alguém que já foi vítima desse tipo de crime: 11,4% dizem que já caíram pessoalmente em golpes envolvendo Pix, WhatsApp, links falsos ou compras online; 19,2% relatam casos dentro da própria família; e 29,1% afirmam conhecer amigos ou conhecidos que foram enganados. Apenas 29,1% dizem não conhecer ninguém que tenha sofrido esse tipo de golpe, o que evidencia o alcance e a frequência das fraudes digitais no país, transformando a segurança online em um problema amplamente disseminado entre diferentes perfis da população.
Metodologia
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Opinião entre 15 e 17 de dezembro de 2025, com 2.000 entrevistas telefônicas em todo o país. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.


