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EUA reacendem suspeitas sobre Hezbollah na Tríplice Fronteira

Desde o dia 19 de Maio, quando a Embaixada dos Estados Unidos anunciou pagamento de recompensa de até US$ 10 milhões para obtenção de informações sobre a atuação do Hezbollah na Tríplice Fronteira, as comunidades locais têm criticado a ação e denunciado o impacto negativo na economia da região que depende basicamente do turismo.

“Isso se configura mais uma estratégia eleitoral do presidente norte-americano, Donald Trump”. A análise é do professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA e doutor em Estudos Estratégicos Internacionais Mamadou Alpha Diallo, com quem a repórter Denise Paro, do site H2FOZ, conversou. 

A iniciativa que partiu do programa Rewards forJustice(RFJ), do Departamento de Estado dos Estados Unidos, administrado pelo Serviço de Segurança Diplomática norte-americano é avaliada como parte de uma cortina de fumaça midiática do governo.

“Se você observar a quantidade de atos e decisões diárias de Trump, os jornalistas não conseguem acompanhar tudo ao mesmo tempo, tirando o foco e a profundidade de análise de quase tudo”, completa.

Causa estranheza a Mamadou o fato de que hoje o terrorismo não está na pauta da segurança internacional. Um dos fatos que demonstram isso é Gaza estar sendo destruída, o que implica a perda de força do Hamas e do Hezbollah.

O professor também desconstrói a ideia de que o envio de remessas de dinheiro saindo da região necessariamente esteja financiando o Hezbollah. Para ele, sempre há acusações de que a Tríplice Fronteira é fonte de financiamento porque tem muito comércio e os árabes são naturalmente comerciantes. No entanto, qualquer imigrante que ganhe dinheiro pode enviá-lo a parentes.

“A remessa de dinheiro é naturalmente consequência da imigração. Isso não significa que a gente tem realmente conhecimento e consegue dizer exatamente para que vai servir aquele dinheiro”, ressalta.

Ele ainda diz que, se os libaneses que vivem aqui têm parentes no Líbano e se a situação do país está difícil, é lógica a remessa de dinheiro.

Origem das narrativas

Em um grupo de pesquisa da UNILA denominado Tríplice Fronteira e Relações Internacionais, Mamadou e outros professores fizeram um levantamento da produção bibliográfica sobre terrorismo na Tríplice Fronteira para averiguar as bases das informações replicadas.  

Segundo o professor, a conclusão à qual se chega é a de que quase todos os textos partem de um mesmo fato, ou seja, de que houve uma narrativa sobre o assunto que em um dado momento se tornou verdade porque teve origem em relatórios oficiais dos Estados Unidos.

A questão, coloca, é a de que esses relatórios não mostram as fontes das informações. Quando os conteúdos são analisados, não há dados suficientes para afirmar a existência de terrorismo na Tríplice Fronteira.

Ele ainda frisa que um dos fatos que incluem a Tríplice Fronteira na agenda de segurança internacional é uma extrapolação da política externa norte-americana do Oriente Médio para esta região.

Tal condição é reforçada por ser comum fazer referência à região como lugar da maior comunidade árabe do Brasil, depois de São Paulo, com ênfase na qual boa parte dos integrantes são do Sul do Líbano, considerado reduto do grupo Hezbollah.

Do ponto de vista histórico, conforme o professor, outro ponto que conecta a Tríplice Fronteira às narrativas terroristas são os dois atentados ocorridos em Buenos Aires, na Argentina.

O primeiro deles, em 1992, contra a Embaixada de Israel. Outro ataque registrado teve como alvo a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 18 de julho de 1994.

Informações vinculam os ataques a apoio logístico a partir da Tríplice Fronteira, porém efetivamente nada foi comprovado. As especulações aumentaram após o episódio do atentado terrorista em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

A partir disso, a Tríplice Fronteira entrou na agenda da segurança internacional, reforçando a premissa de que a região era uma área de perigo, para assim justificar medidas de intervenção e segurança. “Depois de 11 de setembro, aí sim uma comunidade árabe gigantesca passa a ter motivos de  pavor”, menciona.

Recompensa instala clima de perseguição

Jornalista e membro da comunidade árabe-libanesa de Foz do Iguaçu, Ali Farhat avalia que o pedido de recompensa dos Estados Unidos vai inaugurar um ambiente de perseguição, extorsão e preconceito.

Na avaliação dele, os serviços de inteligência israelense e norte-americano têm condições de rastrear a movimentação financeira, por isso a intenção é outra.

“A intenção é implantar um ambiente de ódio, perseguição e de pressão contra todos os cidadãos libaneses ou brasileiros de origem libanesa e deixá-los em um ambiente de terror”, acredita.

No contexto atual, de acordo com Farhat, qualquer libanês que viva na região passa a ser suspeito. “Existem histórias de imigrantes que sofrem este tipo de perseguição, este tipo de pressão aqui.”

O jornalista reforça o fato de que, apesar de não haver provas, os Estados Unidos não abrem mão difundir as informações sobre a Tríplice Fronteira. “Eles pretendem fazer isso para apertar o cerco e a punição contra o povo libanês e fazer uma separação total entre os imigrantes libaneses e palestinos. Isso vai causar um grande prejuízo aos libaneses e árabes, que serão tratados como suspeitos.”

Arrecadação vem de atividades ilícitas, dizem norte-americanos

Conforme o comunicado da Embaixada Norte-Americana, o financiamento do Hezbollah é feito via lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, contrabando de carvão e petróleo, além do comércio ilegal de diamantes.

Na lista também está contrabando de itens como dinheiro em espécie, cigarros e artigos de luxo, além de falsificação de documentos e dólares americanos.

Outra fonte de receita, segundo a embaixada, é a construção civil, importação e exportação de mercadorias e venda de imóveis.

O que é o Hezbollah

Partido de Deus (em árabe), o Hezbollah surgiu entre 1978 e 1982, durante a Guerra Civil Libanesa (1975 a 1990), como uma resistência terrestre à ocupação de Israel no Sul do Líbano. Com o tempo, foi oficializado como partido político e hoje tem representação parlamentar.

Os Estados Unidos classificam o Hezbollah como organização terrorista libanesa que recebe armas, treinamento e financiamento do Irã. 

Recentemente, o Paraguai reconheceu o Hezbollah, o Hamas e a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC) como organizações terroristas.

O governo americano busca pistas sobre fontes de financiamento e atividades ilegais do grupo extremista, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, contrabando de carvão e petróleo, comércio ilegal de diamantes e falsificação de documentos e dólares.

A iniciativa faz parte do programa “Recompensas pela Justiça” do Departamento de Estado dos EUA, que visa enfraquecer o financiamento de grupos terroristas ao redor do mundo. Apesar da oferta, os EUA não apontaram nomes ou alvos específicos, focando na coleta de informações estratégicas.

*com informações de Denise Paro, publicadas no portal H2FOZ.

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