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Rua São Francisco revitalizada mistura tradição e modernidade

Uma das grandes vitórias da Prefeitura – leia-se IPUCC – na permanente batalha contra a decadência do centro da cidade é a Rua São Francisco. Uma das mais antigas ruas da cidade, do tempo em que a pequena vila curitibana tinha talvez umas quatro ou cinco ruas e uma pequena população, ela sobreviveu e hoje vive um processo de revitalização. Lento, mas perceptível aos frequentadores habituais. Sendo parte da história da cidade, e ainda bem preservada, nela se encontram a tradição e a modernidade.

A tradicional Rua São Francisco começava na Rua Presidente Faria e terminava no Belvedere, onde também ficam as ruínas, chamadas de Alto São Francisco. Mas a partir da Rua Barão do Serro Azul passou a se chamar Claudino dos Santos. A Rua São Francisco foi reduzida às duas quadras entre a Presidente Faria e a Barão do Serro Azul. Entre as duas partes está a majestosa estátua de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Na extremidade inferior, na Presidente Faria, um estacionamento de bicicletas e uma minipraça. Jovens ciclistas de um lado, e a tradição religiosa fundante da cidade em outro. Nada mais apropriado.

Foto: Hatsuo Fukuda

Nas duas quadras a que foi reduzida a Rua São Francisco nota-se a mescla. Lá está o sobrado que foi do escultor Ricardo Tod, hoje denominado SFco179. Na parte superior do sobrado permanece uma exposição do seu atelier. Tod foi um dos mais notáveis escultores da terra, e é o autor do icônico Cavalo Babão, que enfeita a Praça do Relógio, duas quadras acima. A propriedade hoje abriga um local para eventos, uma fábrica de chocolates, Utopia Tropical, o Café Royalty, e o Restaurante Tijolo, aonde se chega após percorrer um agradável beco. O café é decorado como se fosse uma antiga casa familiar, com mesas à sombra de um parreiral, e um enorme sofá de couro na sala de visitas que poderia ser de uma tia ou de uma querida avó. Tornou-se um point de jovens descolados que levam seus laptops e celulares de trabalho ou lá fazem reuniões. O restaurante se propõe a servir slowfood. É um local para comer e beber de forma descomplicada.

Foto: Hatsuo Fukuda

O tradicional Restaurante São Francisco, bem conhecido pelos mais antigos, lá continua servindo suas alquimias. É uma casa antiga, fundada em 1955 por Secondino Muiñoz, que havia recém-chegado da Galícia, Espanha, e hoje é tocada pelo seu filho, Valentin Muiñoz. Valentin dirige a orquestra, atrás do balcão, e sua esposa, Antonia, na cozinha, prepara os pratos que atraem a freguesia. O prefeito Rafael Greca lá esteve, e fez um vídeo elogiando a feijoada: “Palavra de Gordo”. Além da feijoada, servida às quartas e sábados, um dos destaques é o Puchero, servido às sextas-feiras. Tradicionalíssimo prato espanhol, assinado pelo próprio Valentin, o cozido é feito com eisbein, costelinha defumada, lombinho, folhas de repolho, batatas cozidas, grão de bico, tudo envolvido em um suculento molho. Recomenda-se comer de joelhos em agradecimento a Deus.

Foto: Hatsuo Fukuda

Uma boa casa tem personalidade. Não há um bom restaurante que não tenha uma natureza inconfundível. No caso do São Francisco a alma é a de Valentin Muiñoz e Antônia, sua mulher. Mas a natureza amigável da casa se percebe também nos garçons que servem à clientela. Um deles é Ervinio Plucinick, que lá está desde 1968. O outro, mais jovem, é também um filósofo e professor. Nada mais apropriado. Difícil filosofar de barriga vazia. 

Fotos: Hatsuo Fukuda

A estátua em bronze de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, padroeira de Curitiba, é de autoria da artista Maria Inês de Bella, uma argentina radicada em Curitiba. Mede 2,5 metros de altura, pesa 650 quilos e está no alto de uma coluna de 10 metros, decorada com pinhões (aqueles desenhados por Lange de Morretes). Nossa Senhora carrega o Menino Jesus e observa o Centro Cívico, preocupada com os destinos da cidade e do Estado. 

Na extremidade inferior da Rua São Francisco, uma minipraça destinada aos ciclistas, na esquina da Rua Presidente Faria, marca o início da São Francisco. A quadra tornou-se um point para jovens. Brechós e bares convivem no local.

Um pouco adiante, na Rua Riachuelo, um marco do processo de revitalização da região: o Cine Passeio, na esquina com a Rua Presidente Carlos Cavalcanti. Embora não esteja situada na Rua São Francisco, marca todo o entorno com suas sessões de cinema, seu café e o belo terraço onde às vezes promove sessões de cinema ao ar livre. A cidade agradece. A região, que estava morrendo, voltou à vida.

Hasuo Fukuda
  • Hatsuo Fukuda, advogado e ex-procurador do Estado.
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