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Referendo na Itália sobre cidadania para imigrantes fracassa e reacende debate sobre imigração

De Roma – Nos dias 8 e 9 de junho, a Itália realizou um referendo popular que incluía, entre outras questões, uma proposta para reduzir de 10 para 5 anos o tempo de residência legal necessário para que imigrantes não pertencentes à União Europeia possam solicitar a cidadania italiana. A medida tinha como objetivo alinhar a Itália a países como França, Alemanha e Portugal, que já adotam esse critério.

Apesar da forte mobilização, com mais de 600 mil assinaturas coletadas para viabilizar o referendo, a votação não atingiu o quórum mínimo de 50% de participação do eleitorado e foi, portanto, considerada inválida. A baixa adesão foi atribuída, em parte, à estratégia do governo italiano de desestimular a votação, o que já havia ocorrido em referendos anteriores, como o de 2022 sobre o sistema judiciário, que registrou apenas 20,4% de comparecimento.

Contexto da proposta

A legislação italiana atual, em vigor desde 1992, impõe um dos prazos mais longos da Europa para a cidadania por residência: 10 anos. Além disso, exige comprovação de renda, conhecimento do idioma italiano (nível B1) e ficha criminal limpa. A proposta de reforma visava facilitar a integração de cerca de 2,5 milhões de imigrantes legalizados — aproximadamente 9,2% da população do país —, muitos deles jovens que nasceram ou foram criados em solo italiano, mas enfrentam dificuldades para obter a cidadania antes dos 18 anos.

A advogada internacional e ex-parlamentar italiana, Renata Bueno, destaca que a imigração é crucial para a Itália, que enfrenta uma grave crise demográfica: cerca de 25% da população tem mais de 65 anos. O papel dos imigrantes é considerado fundamental para setores como agricultura, construção civil, serviços e para a sustentabilidade do sistema previdenciário.

Repercussões

A abstenção foi alta, influenciada pelo governo italiano. A estratégia de incentivar a não participação foi eficaz, repetindo o fracasso de outros referendos, como o de 2022 sobre o sistema judiciário, que teve apenas 20,4% de comparecimento. Entretanto, o resultado reacende o debate sobre a inclusão de imigrantes e a necessidade de modernização das leis de cidadania diante das transformações sociais e econômicas vividas pelo país.

Cidadania por descendência não foi afetada
Um ponto importante, segundo Renata Bueno, é que o referendo não tratava da cidadania por descendência (jus sanguinis). No entanto, em maio deste ano, o Parlamento aprovou uma lei que restringe esse direito a filhos e netos de italianos nascidos na Itália ou que tenham vivido no país por pelo menos dois anos antes do nascimento do descendente — mudança criticada por representantes da diáspora italiana, especialmente no Brasil.

Renata Bueno, que representou a América do Sul no Parlamento Italiano, considera a nova legislação inconstitucional e acredita que ela rompe laços históricos entre a Itália e seus descendentes no exterior. “O referendo, por outro lado, era uma oportunidade de avançar na inclusão dos imigrantes não descendentes, mas foi sabotado por uma visão restritiva”, afirma.

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Renata Bueno, ex-parlamentar italiana e advogada

Próximos passos

Apesar do fracasso da votação, o tema deve continuar em pauta. A expectativa é que a sociedade civil, sindicatos e partidos de oposição mantenham a pressão por reformas mais inclusivas. “A Itália precisa de políticas que reconheçam a importância dos imigrantes para o futuro do país”, conclui Renata.

A discussão, que agora se intensifica, também mobiliza os cerca de 32 milhões de ítalo-descendentes no Brasil, interessados não apenas na cidadania por direito de sangue, mas também nas políticas italianas de integração e inclusão social.

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