Há 15 anos, em 12 de janeiro de 2010, o mundo perdia uma das maiores defensoras da vida: a pediatra e sanitarista brasileira Zilda Arns Neumann. Nascida em Santa Catarina, mas curitibana e paranaense de coração, ela foi uma das vítimas do terremoto que atingiu o Haiti naquele ano, onde estava em missão humanitária para introduzir a Pastoral da Criança no país.
Formada em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1959, Zilda escolheu as áreas da saúde pública e da pediatria para dedicar sua vida. Na época, ela se impressionou com a grande quantidade de crianças internadas com doenças de fácil prevenção, como diarreia e desidratação.
Atuou como médica pediatra do Hospital de Crianças César Pernetta, em Curitiba, e como diretora de Saúde Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, antes de ser chamada, em 1980, para coordenar a campanha de vacinação que iria combater uma epidemia de poliomielite iniciada em União da Vitória. O modelo serviu de base para o Ministério da Saúde, que estendeu a campanha a todo o Brasil.
Também em 1980, Zilda assumiu o Departamento Materno-Infantil da Secretaria da Saúde do Paraná e instituiu com grande sucesso os programas de planejamento familiar, prevenção do câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento materno.
Zilda Arns era irmã de Dom Paulo Evaristo Arns e, em 1983, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criou a Pastoral da Criança em parceria com Dom Geraldo Majella, à época Arcebispo de Londrina e posteriormente designado como Cardeal Agnelo, Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil e presidente da CNBB.
A primeira ação da Pastoral da Criança foi em Florestópolis, no Paraná. Lá o índice de mortalidade infantil chegava a 127 para cada mil crianças. Após um ano de atividades, o número caiu para 28 mortes para cada mil. O sucesso levou a igreja a expandir o projeto para todo o Brasil.
Zilda trabalhou junto a comunidades e treinou voluntários para ensinar mães de crianças em situação de vulnerabilidade a usar o soro caseiro, que combate a diarreia e a desidratação. Com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as ações alcançaram 72% do território nacional.
A abordagem inovadora de Zilda Arns na Pastoral da Criança promovia ações educativas sobre nutrição, higiene e cuidados básicos de saúde. Esse modelo de intervenção comunitária resultou em uma significativa redução da mortalidade infantil nas áreas atendidas, transformando vidas e trazendo esperança a milhares de famílias.
Outro papel decisivo de Zilda no combate à mortalidade infantil foi para reverter a síndrome da morte súbita. Em 2009, uma campanha liderada pela Pastoral da Criança reforçou aos pais a necessidade de colocar o bebê para dormir de barriga para cima, já que evidências científicas apontavam que a posição seria mais segura.
Em 2004, Zilda fundou e coordenou a Pastoral da Pessoa Idosa, para ensinar líderes locais a ajudar idosos a controlar vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças. O projeto atende hoje mais de 100 mil idosos em 579 municípios do país.
No último discurso, feito no Haiti, Zilda Arns ressaltou que para uma transformação social acontecer é necessário um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças.
Ela morreu aos 75 anos, ao ser atingida pelos escombros no desabamento do teto de uma igreja onde fazia uma palestra na capital Porto Príncipe.
O trabalho de Zilda serviu de exemplo para países como Angola, Moçambique, Timor Leste, Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile e México, entre outros. Ela foi indicada três vezes para o Prêmio Nobel da Paz e homenageada inúmeras vezes no Brasil e no exterior.
Até a sua morte, Zilda coordenava 155 mil voluntários em mais de 32 mil comunidades do Brasil.
Em 2023, o nome de Zilda Arns foi incluído no livro de Heróis e Heroínas da Pátria, que fica no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília.
Apesar da ausência física, seu legado continua vivo através do trabalho de milhares de pessoas que se inspiram em sua vida e obra. A Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa seguem atuando em todo o país, levando esperança e transformando vidas.
Com Agência Brasil
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