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Um sábado de morte
Foto: Pixabay

Um sábado de morte

O jornalista Otávio Duarte lembra de um caso de feminicídio que marcou sua trajetória profissional e cita a importância de um debate sobre como a mídia trata os dramas familiares

Pedro Ribeiro - domingo, 16 de fevereiro de 2025 - 07:30

Por Otávio Duarte

Joana era nova.
Devia ter vinte e poucos anos.
Fez as coisas domésticas, a limpeza, e foi visitar a amiga vizinha, na manhã do sábado.
Tempo bom em Curitiba.
Lá se demorou, a conversar, a brincar, a rir.
Pouco depois das treze, uma da tarde, chegava no portão de sua casa, quando o marido, João, também novo, apontou um revólver para ela e disse:

– Nunca mais você vai atrasar o almoço.

E disparou muitas vezes.
Depois, João andou pela vizinhança, temerosos e recolhidos os próximos em suas residências, mas não fugiu. Esperou a chegada da polícia.
Era plantão, eu estagiário no Diário do Paraná, e cobri o assassinato. Final de 1976 ou início de 1977.
O chefe de reportagem, João José Werzbitzki, não quis que eu escrevesse nada. Com as informações que dei, fez um texto.
Lembro do corpo da moça, azulado – isso mesmo – pelas muitas balas que tinha recebido.
E julgo ter ouvido a frase de João, de que não se arrependia, quando os policiais o levavam para a viatura.
João e Joana são nomes fictícios de um crime real. Mais um, numa sociedade machista, que vê a mulher não como autônoma e livre, mas subordinada a um homem. Inclusive na morte.
Um repórter policial, Roberto Guidalli, fez a matéria para a Tribuna do Paraná.
Tornou-se, depois, colega e amigo. Seria interessante ver o que escreveu.
Como cobrimos hoje os dramas familiares?
O assassinato de mulheres no Brasil – normalmente executado por maridos, namorados ou ex-parceiros – é uma tragédia nacional, dada a espantosa frequência.
Até um nome foi criado: feminicídio, para diferenciar, pois antes era tudo homicídio.
Parece que os brasileiros não se dão conta da extensão do massacre.

Otávio Duarte

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