Por Emerson Cervi . Você já deve saber que o MBL, aquele movimento de jovens indignados com o sistema político em 2013, acaba de iniciar a oficialização de seu próprio partido, chamado “Missão”. Quer integrar formalmente o sistema político brasileiro. É, meus jovens, a política venceu a indignação.
No Brasil, para criar um novo partido, segundo a resolução TSE 23571/18, é preciso assinaturas de no mínimo o equivalente a 0,5% dos votos válidos para Deputado Federal não filiados a outros partidos. Sendo que em pelo menos 9 Estados brasileiros tem que passar de 0,1%
Considerando o resultado da eleição de 2022 para Deputado Federal, são necessários 547.042 assinaturas de apoio validadas pelo TSE, que significa serem assinaturas de pessoas vivas e não filiadas a outro partido político. Semana passada o MBL tinha chegado a 550.094 assinaturas.

O gráfico mostra a distribuição dos apoios por Estado brasileiro. Ele ficou acima de 0,1% em 25 das 27 unidades da federação, o que é bem superior ao mínimo da distribuição nacional. No Distrito Federal e Rio Grande do Norte as participações proporcionais passaram de 1%.
Apesar de cumprir a regra de nacionalização, se olharmos os números absolutos (dentro das barras) perceberemos uma forte concentração de apoios em São Paulo, com 225.037 assinaturas, mais de 40% do total obtido. DF e RN ficam acima proporcionalmente por terem menos votos.
Os sete Estados com maiores números de assinaturas, (SP, RJ, PE, MG, DF, BA e RN), juntos, representam mais de 80% dos apoios obtidos pelo MBL. Apesar dessa concentração, o partido Missão promete lançar candidatos já em 2026 para eleições proporcionais e majoritárias em todo País
De quem o partido do MBL deverá tirar mais votos, caso dispute mesmo as próximas eleições? Dos bolsonaristas dispersos em vários partidos e que se sustentam em páginas de redes sociais? Dos candidatos do NOVO? Ou do PODEMOS, que disputa a mesma faixa ideológica de eleitores?
Em 2027, o “Missão” continuará sozinho ou buscará uma federação com outros partidos da direita institucionalizada? Será mesmo que em uma sociedade francamente favorável à intervenção do Estado na economia (vide isenções fiscais) haverá espaço para outro partido liberal?
Ah, parece que o partido do MBL pretende assumir o número 14, aquele que era usado pelo finado PTB do Roberto Jefferson. Favor não confundir com o PTB de Getúlio Vargas, o que defendia mais intervencionismo estatal e que deu maior peso para políticas sociais de seu tempo.
Por fim, importante lembrar que apoio para criar partido não significa votos. O último partido criado no Brasil, foi o Unidade Popular, em 2016, com 492 mil assinaturas validadas pelo TSE e até aqui não conseguiu nenhum desempenho eleitoral que merecesse registro.
O que não reduz a importância do feito do MBL. No mesmo período, o movimento bolsonarista tentou criar um partido, chamado “Aliança pelo Brasil”, com o número 38. Mesmo tendo o principal representante do movimento na presidência da república, não decolou (ou seria engatilhou?).
Emerson Cervi é jornalista, cientista político e professor