Final da tarde de domingo. A cidade está vivendo um inverno gelado. Dias frios e úmidos se seguem a dias de sol e ar seco, com direito a temperaturas de zero grau no início das manhãs. E neblina na madrugada. Ou seja, Curitiba voltou ao normal. Os ventos gélidos e uivantes que vinham do Sul retornaram este ano, como há muito não se via. Isso significa, para os curitibanos, abrir os armários e retirar casacos pesados, cachecóis, bonés de lã, botinas. Os afortunados acendem as lareiras. Os mais antigos, se ainda moram em casas, reabilitam os fogões a lenha. Na chapa do fogão serão colocados os pinhões para serem tostados e comidos saltitantes na mão. Um belo exercício de agilidade manual para as crianças. Sejam espertas ou serão conhecidas como o menino sem dedos do bairro.
Os dias frios tornaram ainda mais prazerosa a Feira de Inverno da Praça Osório, que a prefeitura instituiu e se tornou uma tradição na cidade. A turma a frequenta como se o amanhã não existisse, engalfinhando-se com espigas de milho cozido, pamonha, curau, sanduíches de pernil, espetinhos, pastéis, bolinhos de bacalhau e tudo o mais que a criatividade dos feirantes se dispôs a oferecer à freguesia. E chope e quentão para os sedentos. Casais com bebês no colo, pais empurrando carrinhos, o cãozinho levando seu dono ou dona a passear, famílias enormes – ainda existem famílias com pais, avós, e um rebanho de quatro ou cinco bacorinhos? Existem. Eu vi na Praça Osório. E vi também mulheres e homens solitários comendo pastel ou tomando quentão; a Feira de Inverno da Praça Osório tem de tudo. Aviso aos navegantes: seja esperto e você conseguirá companhia para o frio da madrugada. E o inverno será mais cálido.
A cidade deu entusiástica boas-vindas à Feira de Inverno. No domingo, com a passagem a R$ 3,00, as famílias vêm em massa dos bairros para passear na praça. Famílias inteiras tem oportunidade de um lazer ao ar livre, aproveitando para fazer compras e comer na praça de alimentação que circunda o chafariz. Há aqui um fenômeno a ser estudado pelos acadêmicos. Esta população urbana, que há muito perdeu contato com as raízes rurais, guarda, atavicamente, a lembrança das festas caipiras que se estendiam pelos meses de junho e hoje avançam para o mês de julho: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo, com seus costumes e comidas típicas. E bebidas, claro.
A Arquidiocese de Curitiba preparou um extenso calendário de festas abrangendo paróquias de Curitiba e região metropolitana. As escolas municipais e estaduais todas promovem seus festejos, reunindo pais, alunos e professores. É também uma oportunidade de fechar o semestre letivo. E a Prefeitura, na política de valorização do Centro de Curitiba, promove a Feira de Inverno da Osório. O Centro da cidade, que estaria às moscas no final da tarde de domingo, inseguro e abandonado aos moradores de rua, está um fervo. Tremendo sucesso.

- Hatsuo Fukuda, advogado e ex-procurador do Estado.