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O Advogado do Futuro está cada vez mais parecido com o Advogado do Passado
Foto: Freepik

O Advogado do Futuro está cada vez mais parecido com o Advogado do Passado

O advogado do futuro, em essência, será um resgate das melhores virtudes do passado, adaptadas à era digital.

paranaportal - sexta-feira, 9 de maio de 2025 - 14:44

A ascensão das tecnologias digitais e, principalmente, da inteligência artificial (IA) tem provocado debates profundos no universo jurídico. Há poucos anos, imaginava-se que o “advogado do futuro” seria alguém quase irreconhecível para seus predecessores: altamente tecnológico, conectado e até parcialmente substituído por máquinas. No entanto, paradoxalmente, quanto mais a tecnologia avança, mais percebemos que as características fundamentais do bom advogado – cultivo da confiança, análise estratégica, criatividade e senso de justiça – se tornam essenciais. Assim, surge um novo paradigma: o advogado do futuro se aproxima, em essência, daquele profissional “à moda antiga”.

Em uma análise mais aprofundada, constata-se que, se por um lado, as ferramentas de IA já automatizam revisões contratuais, pesquisa jurisprudencial e elaboração de peças simples, por outro lado, isso alivia o advogado de atividades burocráticas, liberando tempo para funções que realmente exigem capacidade analítica, sensibilidade humana e personalização.

Por mais que softwares jurídicos criados à exaustão com inteligência artificial analisem milhares de decisões judiciais em poucos segundos, possibilitando prever tendências e fundamentar teses com base em grandes conjuntos de dados, transformar esse “oceano” de informações em estratégia exige um olhar humano experiente, crítico e ético.

Nesse contexto, apesar de assistentes virtuais e chatbots responderem a dúvidas preliminares, os clientes continuam buscando no advogado algo que a máquina não entrega: empatia, confidencialidade, compreensão contextual e orientação para dilemas éticos e estratégicos específicos.

Assim sendo, à medida que a IA revoluciona o ambiente jurídico, as qualidades que diferenciam um advogado de excelência são, ironicamente, aquelas que já o distinguiam no passado, entre as quais podemos citar:

• Relacionamento Humanizado: Confiança, escuta ativa e sensibilidade às nuances dos conflitos continuam sendo insubstituíveis.

• Ética: Em tempos de decisões automatizadas, a capacidade de ponderar dilemas morais e garantir a justiça ganha ainda mais importância.

• Criatividade Jurídica: Grandes soluções nunca vieram apenas do cumprimento mecânico da lei, mas de interpretações inovadoras e estratégias originais – algo difícil de replicar por algoritmos.

• Argumentação: Tribunais e negociações exigem não apenas lógica, mas retórica, persuasão e habilidade de improviso.

Evidencia-se, assim, que a IA desempenha exatamente as funções para as quais o advogado nunca foi especialmente capacitado ou motivado: repetição, padronização, cálculo puro e sistematização massiva de dados. Assim, o profissional do futuro volta seus esforços para o essencial: acolher, aconselhar, negociar, fazer juízos de valor, interpretar cenários complexos e desenvolver soluções personalizadas.

Nesse sentido, a advocacia resgata o papel do profissional conselheiro, similar ao do passado, mas agora turbinado por ferramentas tecnológicas que potencializam o raciocínio, sem, contudo, jamais substituí-lo.

Podemos afirmar que a tecnologia transformou – e continuará transformando – a rotina, os mercados e as demandas do Direito. Porém, longe de afastar o advogado da sua essência, ela devolve a centralidade do humano à profissão. O advogado do futuro, cada vez mais, se aproxima daquele profissional respeitado, estrategista e empático do passado, agora munido de novos instrumentos para exercer, com ainda mais excelência, seu papel insubstituível na promoção da justiça.

Gustavo de Camargo Hermann – OAB/PR 37.853 – Advogado e Sócio Fundador do Escritório Camargo Hermann e Sensi Advogados Associados.

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