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Paço da Liberdade, a grande atração do Centro de Curitiba
Foto: José Fernando Ogura/SMCS

Paço da Liberdade, a grande atração do Centro de Curitiba

Um dos maiores prefeitos de Curitiba, Cândido de Abreu, construiu uma maravilha arquitetônica curitibana. Confira o artigo de Hatsuo Fukuda.

paranaportal - segunda-feira, 19 de maio de 2025 - 10:00

Uma das maiores atrações do centro da cidade de Curitiba, o Paço da Liberdade, inaugurado em 1916, é também uma das menos reconhecidas. Construída por um dos nossos maiores prefeitos, Cândido de Abreu, para servir de sede à Prefeitura Municipal, hoje abriga o SESC Paraná, com um Café, oferta de cursos, exposições, shows e filmes. O prédio é um testemunho da capacidade engenheira e artística de Cândido de Abreu, que se cercou de inúmeros artistas para a obra e é um testemunho da capacidade do IPPUC, que transformou todo o entorno em um conjunto arquitetônico precioso.

De um lado, a Praça Generoso Marques, com a estátua imponente do Barão do Rio Branco, com o olhar voltado para a antiga Estação Ferroviária, que na época em que foi inaugurada, em 1914 – dois anos após sua morte – era o principal eixo comercial da cidade, a antiga Rua da Liberdade, que foi rebatizada com o nome do Barão do Rio Branco. A remodelação promovida pela Prefeitura de Curitiba destaca a estátua e o prédio hoje ocupado pelo SESC. A estátua é obra do escultor mexicano-brasileiro Rodolfo Bernardelli, talvez o maior nome da escultura brasileira entre o final do Império e começo da República.

Ao centro do conjunto, o Paço da Liberdade, um prédio com grande influência do Art Nouveau. Cândido de Abreu, o então prefeito, era um engenheiro hábil e com uma grande capacidade de reunir talentos. O arquiteto paulista Roberto Lacombe esculpiu os ornamentos e as estátuas da fachada: os dois Hércules que suportam a torre central, onde está uma jovem representando a cidade de Curitiba, são de sua autoria. Marceneiros hábeis foram chamados para os trabalhos, e os pintores João Ghelfi e João Ortolani (este um italiano) fizeram as pinturas do teto. O primeiro elevador da cidade ali foi instalado.

Foto: Thiago Lisboa/SMCS

O argentino-curitibano João Ghelfi foi o artista que teve o insight dos pinheiros e pinhões que foram depois desenvolvidos por Lange de Morretes e hoje os curitibanos pisam distraídos nas calçadas curitibanas. João Ghelfi teve uma morte trágica, e poucas obras dele sobreviveram à fúria de sua esposa Carmela. Visitar o Paço é uma oportunidade de tomar contato com sua obra.

Do lado oeste, o prédio abriga o café. Além dos cafés, o SESC proporciona apresentações de shows, o que torna a experiência ainda mais preciosa.

Aqui a praça muda de nome. Passa a se chamar Praça José Borges de Macedo, o primeiro prefeito curitibano, que exerceu o cargo ao tempo da antiga 5.ª Comarca de São Paulo.

Foto: Hatsuo Fukuda

A seguir, o caminhante curitibano se depara com outra maravilha curitibana: a estátua de Maria Lata D’Água, de costas para o prédio, com o olhar voltado para a feira de flores ali instalada. A escultura Água pro Morro, nome oficial da Maria Lata d’Água, de Erbo Stenzel, teve como modelo e inspiradora Anita Cardoso Neves, também escultora, e foi feita ao tempo em que ele frequentava a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, nos anos 40. Nada melhor do que vê-la na Praça José Borges de Macedo, junto às flores e ao povo de rua a qual pertence. Erbo Stenzel, ao que dizem, era apaixonado por ela, e a retratou como uma força da natureza, não como uma escrava. Isto é evidente na postura ativa em que ela foi retratada, com os pés nus enfiados na lama, o olhar firme e altivo, a postura ereta. Seu olhar é sério, mas o conjunto fala mais alto. Sua saia é curta, um pouco acima do joelho, mas do lado esquerdo ela a levanta, talvez para evitar respingos da lama. Pernas musculosas, de quem sobe o morro todos os dias.

Alguém teve a feliz ideia de colocá-la em um espelho d’água, com água corrente destacando sua labuta e trazendo tranquilidade ao passante ocasional.

Foto: Hatsuo Fukuda

Enquanto leva água para o morro, Maria observa o Mercado de Flores à sua frente. Uma profusão de cores contrasta com o olhar sério de mulher trabalhadora. No mercado, buquês de flores aguardam os namorados, os amantes e amigos que não esquecem as datas festivas.

Observo que não há um estacionamento rotativo para servir ao Mercado de Flores. Ora, farmácias e outros serviços gozam dessa regalia, por que não as flores? É um produto de primeira necessidade, como remédios e atendimento médico. Podem perguntar a qualquer apaixonado que precisa presentear a mulher amada. Prefeito, ponha um estacionamento rotativo na praça! Os amantes e namorados agradecem.

Ao lado do mercado de flores, o marco zero da cidade.

A seguir, uma lanchonete e uma banca de revistas e um sanitário. Cobrindo todo o conjunto, jacarandás mimosos dão sombra à freguesia. Antigamente, quando os ciclos da natureza eram regulares, elas costumavam anunciar o fim do inverno e o começo da primavera. Hoje estão bissextos, deixando-se enganar pelas ondas de calor que substituíram o inverno curitibano. Mas sempre é um belo espetáculo, tomar um café ao ar livre, à sombra dos jacarandás mimosos em flor.  

Modelando o circuito, no lado sul do conjunto, da Rua Barão do Rio Branco à Monsenhor Celso, uma fileira de casarões antigos, começando pela Casa Edith e terminando na antiga Casa Frischmann, na esquina com a Monsenhor Celso. A história da cidade pode ser contada através do comércio que lá está instalado. Mas isso fica para o próximo artigo.

Hasuo Fukuda
  • Hatsuo Fukuda, advogado e ex-procurador do Estado.

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